Governo não mexe no Custo Brasil
Fonte Revista Plásticos em Revista, página 56, Edição 571, Junho de 2011, Alberto Carlos Almeida
Autor de duas radiografias da população, os livros “A Cabeça do Brasileiro” e “Cabeça do Eleitor”, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida é disputado articulista na mídia e, à frente do Instituto de Análise, cria e realiza pesquisas de opinião e mercado, além de sobressair nas atividades de consultoria sobre o cenário político e de acompanhamento dos debates e projetos no Poder Legislativo do interesse de clientes seus, como indústrias, entidades setoriais e bancos. Nesta entrevista, Almeida esfria as esperanças de o governo combater o Custo Brasil e adverte a transformação de plástico para o que este perdendo por falta de maior visibilidade na vida pública.
PR – Quais os entraves do Custo Brasil que hoje atormentam indústrias como a de transformação de plástico e que podem chegar ao final do governo Dilma resolvidos ou, ao menos, atenuados?
Almeida - Por enquanto não há sinais de que o governo Dilma venha a atuar de maneira coordenada para solucionar problemas tais como a excessiva carga tributária, lacunas de infra-estrutura, burocracia abusiva e excessiva ou pesados encargos trabalhistas. Não há agenda legislativa para lidar com nenhum desses problemas. O fato de não haver essa agenda legislativa, agora em meados de 2011, não significa que não venha existir no futuro. Há muita coisa que vem melhorando lentamente no Brasil: a educação. Isso se deve a uma soma de esforços que envolvem não apenas o atual governo federal, mas os que lhes antecederam e governos estaduais e municipais. Porém, também não há uma agenda legislativa para tornar mais veloz e processo de melhoria educacional de nossa população.
PR – Exceto pela questão ambiental, a transformação de plástico é bem pouco familiar ao Poder Legislativo, apesar de faturar mais que os setores conhecidos, como o calçadista. Ela perde ou ganha com esse distanciamento?
Almeida – A aproximação entre qualquer setor empresarial e o mundo político é sempre salutar, desde que feita dentro dos padrões legais. Quando um setor empresarial se apresenta aos deputados e senadores, nossos representantes passam a entender de forma clara suas demandas. Pode até ser que os parlamentares tomem decisões que contrariem os interesses do setor; ainda assim, tais decisões serão mais bem informadas e tenderão a prejudicá-lo menos. A maneira moderna de se fazer lobby (pressão) sobre o sistema político é por meio da utilização de informação. Quanto mais informações os políticos tiverem sobre as atividades da indústria de transformação de plástico, mais as decisões tenderão a um padrão consensual e não-conflitivo.
PR- Em seu livro “A Cabeça do Eleitor”, você deixa claro que o brasileiro vota em função de suas necessidades imediatas. Diante disso, como avalia as possibilidades de a transformação de plástico conseguir, sem lobby ou bancada de parlamentares a seu favor, que suas reivindicações sejam seriamente consideradas pelo Poder Legislativo? Afinal, tratam-se de pleitos em regra de cunho econômico, fiscal, ambiental e/ou de infra-estrutura, de resolução imediata pouco viável.
Almieda – No Brasil de hoje é preciso sempre considerar a importância de atores políticos centrais: o primeiro deles, que exerce pressão desorganizada, é a opinião pública. Há também os cidadãos organizados e , por fim, os interesses empresariais também organizados. Quando um interesse empresarial organizado é capaz de mobilizar a seu favor tanto a opinião pública quanto a sociedade civil, aumentam muito as chances de atendimento de suas demandas. Conseguir isso exige um grande esforço, porém, tende a levar a grandes resultados.